quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Manifesto aos piauienses



A partir do golpe militar de 1964, foi instituído no país um regime político, onde a tortura, já utilizada desde o passado contra escravos indígenas e africanos, pelas elites coloniais, privadamente, foi agora institucionalizada pelo Estado, como um instrumento de segurança nacional e investigação, a despeito dos direitos humanos dos investigados.
Assusta-nos saber que a tortura é praticada, até hoje, em delegacias, quartéis e penitenciárias, e que grande parte da nossa população a aprova como método para obter confissões e provas, como se constata pela pesquisa realizada no Núcleo de Estudos da Violência da USP, realizada em 2010, em que quase metade dos brasileiros concorda com o seu uso para obtenção de provas nos tribunais. Os responsáveis pela pesquisa consideram que tal opção, consequência da desconstrução da memória popular, decorre de uma frustração com o desempenho do nosso sistema de Justiça, além de considerarem que a prisão é ineficiente para punir ou reabilitar.
Enquanto os crimes da história do Brasil continuarem impunes, os criminosos continuarão transferindo culpas aos torturados, assassinados e perseguidos, as vítimas de seus crimes, os que se calam se manterão cúmplices, e toda a população permanecerá vítima e refém, e a história do Brasil continuará sendo escrita por criminosos.
No Piauí, a memória das lutas do povo, militantes democráticos, sindicalistas, camponeses, estudantes, em décadas passadas e as perseguições sofridas devido a essas lutas, após o golpe de 1964 está ainda mais oculta.
O Comitê Piauiense pela Memória se propõe esclarecer a verdade histórica através de atos que deem voz aos perseguidos, assassinados e esquecidos, assim como desconstruir a mentira estabelecida na sociedade em cujo nome se continua a praticar inomináveis crimes.



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