sábado, 31 de agosto de 2013

O dólar furado

 

 


Luiz Tito





As análises encaminhadas sobre a recente alta do dólar em relação ao real, nas últimas semanas, mais uma vez demonstraram a fragilidade da economia brasileira, diante da evidente falta de unidade das ações do governo Dilma na linha do crescimento do PIB, do controle da inflação, da competitividade da indústria brasileira e da geração de reservas cambiais.
Nos últimos anos, o Brasil amargou a realidade de efetuar exportações apenas de suas commodities mais clássicas, com destaque para o minério de ferro, o açúcar, o frango e a soja. Não conseguimos implementar, exceto com pequenas exceções, a exportação de produtos manufaturados de valor agregado significativo. E a equação favorável de nossa balança apenas foi possível graças ao desempenho da agricultura e da pecuária, setor responsável pelo superávit contabilizado pela nossa balança comercial.
Poderia ser melhor, não fossem as consistentes amarras atuantes em todo país que submetem qualquer atividade econômica aos seguidos equívocos das relações com os setores ditos defensores do meio ambiente, que fortalecem um acervo de dificuldades e obstáculos, gerados, em paralelo, pela postura fiscalista do Estado, pelo atraso da burocracia e pela instabilidade jurídica.
Em qualquer estágio da administração pública brasileira – federal, estadual e municipal –, meras portarias e instruções normativas têm valor de lei, e basta a vontade de um burocrata para colocá-la na praça. O Estado brasileiro não tem compromisso com a realidade da produção, não tem contas nem aluguel a pagar. Não paga impostos, não investe na engenharia e no aperfeiçoamento de seus produtos, no treinamento e na remuneração de mão-de-obra. O Estado cobra, indiscriminadamente, para gerar e sustentar reservas que acumula mal, mas desperdiça bem. Nisso o Brasil é craque, quase imbatível.
ERRO ARGENTINO
Na Argentina da paridade entre o dólar e o peso, nos idos da década de 90, houve um momento em que os produtos importados, exceto o trigo, eram mais atrativos do que a sua produção interna. Abriu-se a importação para tudo, com ênfase do supérfluo, automóveis inclusive, e a indústria metalúrgica, a indústria têxtil e de equipamentos elétricos faliu. As lojas vendiam badulaques coreanos, roupas chinesas e italianas, cópias mil, carros franceses, alemães e japoneses. O peso não remunerava os salários e os produtos produzidos internamente, mas o câmbio do dólar facilitava o acesso aos importados de outras economias, de países mais inteligentes e mais responsáveis com seus gastos públicos.
Em economia, ao que dizem os que entendem, é fundamental a construção articulada das ações de governo. A alta do dólar aos patamares atuais pode ser positiva, para uma economia que não tem mais espaço para o ativismo fiscal, para as manobras dos índices oficiais, para a importação sem metas e para o festival da burocracia. Em todo mundo, as dificuldades sempre geraram mais responsabilidade e criatividade. Aproveitemos esse momento, com os pés no chão. (transcrito de O Tempo)

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